Hoje dedicado aos Artistas Unidos em risco de desalojamento:
III
Oh Portugal, Portugal que dormes
Ainda que em correria
A tua cara deitada beira Atlântico
Recebendo junto à boca a espuma
Das águas sujas da ignorância.
Lisboa é um bigode
que insólito cresce desconforme
tapando o sorriso dos lábios
Ao crescer para cima e para os lados
tapando o Sol a quem caminha
ao tornar a face animal
Em correria
passos curvados ao peso das pastas
(malas para a breve viagem onde
vão ser,
lá sim) lá vão ser.
O ar sujo faz as minhas lágrimas
escorrer
a negro pelo aparo da caneta
Não choro.
Mostro o riso, a rábula, o passo firme.
(in "Ciclo Lusitano", não publicado)
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